13 de set. de 2017

Em que você ainda acredita?

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E na fila de uma loja, estou na frente de uma mãe com duas filhas (criança e adolescente):

- Eita mãe, uma espada! "Yah!"
- Deixa isso, é de menino!

Eu sorrio e continuo: - Ah mãe! Meninas também podem ser poderosas. Você lembra da Shirra, irmã do He-man? Ela tinha espada, superpoderes e a gente adorava!

- É verdade! (Pegando a espada) Ela dizia: "Pelos Poderes de Shirra!" Eu gostava mesmo!

- Você pode resgatar alguns episódios no youtube, acho que as meninas vão gostar de ver. 

- É. Obrigada!

Fim da conversa. Fila que segue...

E reflito: em que momento deixamos de lado aquilo em que acreditamos, a força que temos e nossos gostos mais simples e com significado? Aquela mãe - que poderia ser eu ou você - em algum momento, deixou de acreditar e isso movimenta as relações e gerações. 

Eu lembrei do livro infantil, recém publicado por mim e como é importante resgatar este encantamento para usar na vida. Todos podemos ter - e temos - superpoderes. Não aqueles onde saem raios ou outras energias pelas mãos, mas poderes diários e renovável em qualquer tempo. Mas a gente só acredita em algo, se a gente acreditar em algo. Bem assim! 

E você? Em quê ainda acredita?
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11 de set. de 2017

Nasce um bebê e ... (Não) nasce uma mãe. Não necessariamente.

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Ainda vivemos numa cultura em que prevalece a ideia de que a maternidade é um instinto (da ordem apenas do biológico). Mas é necessário lembrar que o nascimento (psíquico) de uma mãe não coincide com o nascimento biológico do bebê. Isto significa que, do ponto de vista emocional, uma mãe não nasce quando nasce um bebê. Uma mãe é construída e reconstruída dia após dia a partir de sua história pessoal, das representações sobre o que é ser uma mãe, das interações que estabelece com seu bebê e do suporte que recebe de seu ambiente.

Muito acontece com as mulheres a partir da maternidade. Frequentemente relatam que querem dar conta de tudo, mas é preciso ajustamento à nova identidade e às descobertas em relação ao seu (desconhecido) bebê. Um bebê foi desejado, mas é o real que nasce. Uma mãe foi idealizada, mas é a mãe possível que vai funcionar e existir. Nasce um bebê. Constrói-se uma mãe. Sim, tipo lego, pecinhas, encaixes na prática.

A serviço da maternagem devem estar todos aqueles que se ocupam do casal e do bebê. Sejamos rede de apoio! 
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27 de ago. de 2017

Como pode, o seu trabalho ser brincar?

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Dia desses, numa sessão inicial com uma criança de cinco anos:

- Agora é a sua vez. Quer saber algo sobre mim?
- Hummm. Quero: onde você trabalha? Pergunta a criança.

Eu dei risada, pois estava claro que aquela configuração de trabalho não era possível ainda em sua cabecinha: - Eu trabalho aqui. Sou Psicóloga.

Ela olhou rápido ao redor, e com uma expressão séria, questionou: - Como pode, seu trabalho ser brincar?

O nosso vínculo com o trabalho (em qualquer profissional) parece ser tão rigoroso, que o lúdico no trabalho ainda pode ser mal interpretado, tantas vezes. E se tratando da Psicologia, é preciso também reinventar para alcançar a diversidade humana. Mas, que fique claro, a gente só pode sair viajando por aí, quando sabemos como e para onde retornar, assim nos sentiremos seguros - não sempre, mas com algum norte. Do contrário, a gente se perde, fica tonto de tantas voltas e leva para a incerteza, quem estiver na viagem.

É um trabalho conjunto, de formação de vínculo: se o paciente estiver forte, ótimo, você está; se o paciente estiver frágil, você precisa continuar forte, continuar lá, mesmo se você não está. Entende a delicadeza surreal? Entende a necessidade de terapia para profissionais? Não há uma regra, há seres humanos vivendo situações semelhantes ou diferentes e exigindo de si e dos outros ao redor, diversos esforços que movimentam ativamente as emoções. Não há um jeito único, uma forma definitiva, há um outro olhar, um pouco mais de atenção aos detalhes ao que é feito e falado. Várias maneiras de ser chegam ao consultório, que é uma espécie de laboratório da vida real, onde o sujeito é um pouco do que tem sido lá fora, misturado com o que gostaria de ser mas por algum motivo, não é. Às vezes, é preciso dizer aos pais: o que vocês acham que estão ensinando ao agir assim, indo contra os combinados? Às vezes, é preciso dizer ao adulto: olha, tu pode errar também, e tudo bem. Às vezes, é preciso dizer ao adolescente: se tu não fizer outra escolha, vai estar sendo exatamente aquilo que eles são com você, e vai se chatear demais quando perceber isto. Às vezes, é preciso dizer à uma criança que faz uma birra incrível, na frente da mãe que sorri: a mamãe está achando engraçado, mas eu não e, por isto, ficarei em silêncio até que eu perceba que isto aqui é sério para todos nós. 

Quando dizer ou fazer tudo isto? Não sei. Talvez eu só tenha feito uma vez, ou três; ou ainda não tenha feito nada disso. A questão é estar atento ao que demanda a situação e considerar a possibilidade de ser ética, sem ser permissiva desnecessariamente.  

Na terapia, é bom e precioso saber voltar, para poder continuar a seguir, considerando o outro, este que você sabe sobre, um pouco, e vai emprestar a si mesmo, para que ele aproxime-se da sua real ou ilusória confusão e se reconstrua então, ou não. Entende como não cabe numa lista, num texto, num tamanho qualquer? A Psicologia, e aqui acrescento a psicanálise (que é o instrumento-agulha das minhas costuras profissionais) - é uma experiência, uma escolha e, escolhas são únicas.
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26 de ago. de 2017

Família: uma ficção necessária? *

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Toda família tem seus segredos e sintomas. Estes aspectos fazem o nó que configura a instituição, onde circulam dinâmicas e desejos do outro, ocupando os espaços, introduzindo buracos e cortes que tentamos cuidar e curar. 

Porém, na análise, descobrimos que há sintomas não analisáveis e ficamos então perplexos ao descobrir que somos nós (cada um de nós) o pecado, a herança que desestabiliza esta ficção necessária. 

Também descobrimos que conseguiremos chegar lá (onde queremos) só que aos pedaços.

* Reflexão a partir da XIV Jornada da Escola Brasileira de Psicanálise - Delegação Paraíba, em João Pessoa/PB.
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