4 de fev. de 2018
Acordo, alguns dias bem
mais cedo e me preparo. Escrevendo tomo consciência do que faço, mas na
prática, já virou hábito e eu nem sempre percebo. Confiro as horas, a roupa, a
mente; agenda,
caneta, carimbo, algum livro necessário. Talvez umas orelhas bemmm grandes
fossem úteis - pra ouvir melhor, sabe... Sigo para o consultório. Vez por outra
vou caminhando, observando a rotina ao meu redor e vendo, ouvindo, sentindo,
que todos nós estamos buscando algo que nos preencha significativamente. Talvez
por estarmos sempre apressados e pouco observarmos sem julgar, estejamos ser
humaninhos tão complicados...
Chego. Entro. Ponho a
chave para abrir o armário e por dentro também vira um chave em mim, que abre
espaços para as histórias que vou ouvir. Os medos, anseios, possibilidades,
incertezas, novas informações, insistências, desistências, corda bamba, superação,
vidas reais. No meio de tudo, há, por vezes, alguém que não queria estar
ali. Mas eu preciso estar para este alguém. E estar consciente de que o meu
fazer refaz o outro ou, o contrário, se não houver cuidado.
Essa história de que
"a psicologia me escolheu", não encaixa nas minhas questões. Fui eu
mesma que escolhi, sério. E escolhi porque ainda quero traduzir pessoas. Escolhi porque queria desatar nós, organizar
coisas - e pessoas - apesar de ser necessário estranhamento antes de pôr em ordem. Por vezes, há também que se perceber - e aceitar - umas desordens necessárias. Talvez eu tenha sido bruxa, cigana, leitora de mãos, de bola de cristal, encantadora de cobras, em outros tempos por aí. Vai ver que sim.
Então, perdoa a bagunça
que há por dentro e permita-se atravessá-la. Aqui, há espaço e ouvidos para
histórias (e bagunças) de qualquer comprimento.
31 de jan. de 2018
Crescer faz parte, ok!
Quando um paciente cria uma história onde ele veio de outro mundo e quer muito voltar pra lá - um mundo onde só existem pessoas iguais a ele e que são crianças para sempre, "porque crescer é chato; adulto só trabalha" - você é tomado pela consciência de que a relação do adulto com o trabalho precisa mesmo melhorar, para que seja possível uma transmissão de que crescer tem lá suas intensas questões, mas não é algo que deve ser consumido de estranhamentos. É o natural da vida e não aceitar isto, pode vir a ser doloroso demais.
| Aqui, eu tento. Trabalho e brinco. Trabalho e escrevo. Trabalho e descanso. Trabalho e canso. Trabalho e brinco de novo. Sigo me estranhando mas buscando o que eu posso fazer com todo esse tanto e continuar: sendo, brincando, trabalhando, crescendo. |
E por aí, como está a percepção do "ser adulto"?
22 de jan. de 2018
Palavra de criança
Quando observamos
as crianças em suas brincadeiras e conversas habituais, podemos perceber que, muitas
vezes os pequenos apresentavam dificuldades para nomear o que sentem. Pedi a seis crianças que criassem suas definições para algumas palavras que, utilizamos usualmente e, portanto, fazem parte de sua rotina de escuta, mesmo que indiretamente. O
resultado apresenta um pouco de como estão sendo construídas as suas percepções
sobre a vida.
Esta conscientização sobre "o que é o quê", muito além da fase dos
“porquês”, é muito importante pois promove maior autonomia e a
possibilidade real de pensar, favorecendo as relações.
Adulto: “é gente grande”
- T, 14 anos
Dinheiro: “é um papel
que tira no banco” - T, 14 anos
Mãe: “é uma pessoa que cria a gente” - T, 14 anos
Nuvem: “é uma coisa no céu que faz chover” - J, 11
anos
“É um algodão doce” - M, 12 anos
Ordem: “é quando o pai não deixa sair” - M, 12 anos
Pai: “é o querido da mamãe” - G, 9 anos
Saudade: “é quando
alguém viaja e a gente fica” - A, 11 anos
Saúde: “é felicidade” -
R, 11 anos
Tristeza: “é o vento” -
J, 11 anos
Universo: “é um verso” -
T, 14 anos
“É onde as pessoas estão
no mundo para sempre” - G, 9 anos
Pergunta aí à sua criança!
Brinque de pensar sobre as palavras.
Converse, estimule a imaginação e o ser-si.
15 de jan. de 2018
Escuta. Você escuta?
A moça foi ao café de sempre, ou, talvez, de sempre que possível. A atendente pergunta: "o de sempre querida?" A conversa deveria continuar com a sua escolha do pedido, mas além de pedir ela costurou uma história que era importante sobre a falta de saúde de alguém. A atendende então sentou à sua frente. E escutou. Fez duas ou três perguntas pontuais. Ouviu atentamente a história. Uma história que talvez fosse a primeira do dia, mas com certeza não seria a última. E só após ouvir anotou o que deveria pedir.
Achei bonito. Uma atitude de cuidado. Que a gente também encontre pessoas que nos ouçam, sem demasiada pressa. Que nós também sejamos àqueles que escutam, mesmo quando a história não é sobre nós.
Achei bonito. Uma atitude de cuidado. Que a gente também encontre pessoas que nos ouçam, sem demasiada pressa. Que nós também sejamos àqueles que escutam, mesmo quando a história não é sobre nós.
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