24 de fev. de 2013
O que pediu não era o que queria
Ela já chegou cansada. Cansada de outras
análises que “não me ajudaram em nada e não sei se aqui vai ser diferente, não
sei”. E neste momento, as lágrimas começaram a cair. Não quis usar o lenço para
limpá-las, e o pranto aumentou por alguns minutos. Parecia que não se permitia
chora há tempos; estava realmente exausta. Relatou sobre a sua dificuldade em
permanecer fiel ás amizades que tinha... Tinha, pois já não contava mais com
elas. Disse que queria virar nuvem, observar tudo do alto e ser quase que
intocável. E falou por trinta minutos sem parar, exceto pelas interrupções de
choro que vez ou outra, em meio às palavras, visitavam seu discurso “eu disse
que queria ficar só, eu pedi isso, quase implorei, mas na verdade não era o que
queria”. Este fato estava fazendo morada dentro dela, enraizando tudo que não
deveria. Parecia bem difícil ter que assumir a ideia de viver uma relação
estável e segura, parecia ter uma vontade que não sabia como se fazer real.
E fomos pelo caminho mais difícil,
porque era o único naquele momento, passando por cima de dores, ao lado de
desamores até chegar ao lugar que realmente desejava e poderia suportar. Ela
estava, enfim, descansando de suas próprias angústias.
23 de fev. de 2013
A garota que não sabia ler
Ela supervalorizava o sexo na relação. E
cobrava de si o tempo inteiro, buscando sempre novidades que pudessem
impressionar o parceiro. Um dia ele disse que a fantasia não era necessária,
mas ela já estava vestida, na roupa e na expectativa. Ele não queria, não
precisava de nada daquilo, só desejava estar com ela, dormir ao lado e viver o
dia-a-dia. Por ele, ela chegando em casa e sentando ao lado para tomar um
chá, já seria suficiente. Mas ela não gostava de chá e não sabia ler. Não sabia
ler o que seu próprio íntimo dizia, os recados que enviava, através dos
“tombos” emocionais que levava. Ela só queria atuar e escrever, sem nem ao
menos saber ler... Ler a si mesmo, antes de qualquer outra tradução.
Ali fizemos treinos
de si mesma, e ela saberia interpretar melhor a sua própria condição de mulher,
parceira e menina. Ali aprendeu a ler seu alfabeto emocional e cuidou em juntar
as letras e formar suas primeiras palavras, seu discurso afetivo e individual.
Saber de si para então, saber do outro.
22 de fev. de 2013
Quanto atraso neste nosso avanço...
Sim, a imagem acima não é montagem, ou algo do tipo. Esta foi uma cena registrada aqui neste Brasil. Não estou interessada em citar o lugar onde isto aconteceu, porque poderia ter sido em qualquer cidade que nos rodeia, então, poupo minha escrita neste aspecto. Mas sinto, sinto muito por esta pessoa que foi submetida a esta situação. Sinto também pelos transeuntes ao redor dele, observando, e talvez comentando o movimento que aquilo provocou. Sinto por quem cometeu este ato, que por algum momento acreditou que podia, que tinha este direito e que salvava a si e ao demais. O fato é que este moço que aparece amarrado na imagem, fez um "surto", ou seja cometeu atos considerados ilegais e agressivos à sociedade: ele teria quebrado as vidraças de uma loja, pois possui problemas mentais. Soldados alegaram que não poderiam transportá-lo considerando seu estado mental; pessoas que tentaram ajudá-lo foram impedidas pelos homens que o prenderam. Negro, pobre e... Louco? Por isso é permitido submetê-lo a tal situação ridícula, considerando o "avançado" mundo atual? Se existe algo que não quero perder enquanto vida eu tiver, é o respeito pelas pessoas, a vontade de ajudá-las a se aceitarem e melhorarem se preciso for, e não permitir que uma atrocidade desta se realize. Podia se um de nós ali... Poderia ser o meu desespero entre aquelas cordas, e isso me faz refletir muito sobre este acontecimento e tantos outros... E a sociedade acostuma-se a ver e nada fazer; sem reação, menos confusão... Será? Eu só sei que não gostei, não aprovo e me entristeço com este atraso diante de tanto avanço divulgado.
15 de fev. de 2013
Toda realidade em si, tem um limite.
A realidade é espaço limitado para todos. É um avesso dos contos de fadas. Mágica, só se for aquela de tirar a moeda atrás da orelha
de alguém quando já estamos com a moeda em mãos.
A vida que se apresenta no setting terapêutico é tal e qual
a representamos fora dali: confusa, calma, agressiva, linda, depressiva,
invasiva ou insuficiente...
Há pessoas que se relacionam, mas não amam; há outras que amam
em silêncio e não se relacionam.
Aprendo diariamente com os pacientes que atendo, que
emprestam suas dores e angústias cada vez que estão ali, absortos ou não, num
momento que marca uma passagem de um antes para um depois repleto de
possibilidades. Aprendo a escutar, a perguntar, aos outros e à mim... Recebo as
ansiedades e lágrimas que abraçam a almofada, colocada ali para ocupar um
espaço simbólico que logo passa a ser concreto, quando alguém ocupa o espaço ao
lado.
E como eu dizia, toda realidade em si, tem um limite...
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