10 de ago. de 2014
Procura por antidepressivos
Entrevista completa, cedida ao jornal A União - João Pessoa, em 10/08/2014
- Segundo os dados do IMS Health, instituto que faz auditoria para a Anvisa, a venda de estabilizadores de humor e antidepressivos aumentou cerca de 8,4% nos últimos quatro anos. No entanto, se olharmos mais para trás, entre 2005 e 2009, o crescimento foi de 44,8%, um volume bastante expressivo. A que você atribui isso? É um indício de que há mais tratamento de doenças mentais ou há excessos nas recomendações e prescrições dos médicos?
Psicóloga Mayara Almeida: Houve sim, um aumento de problemas mentais, devido ao movimento frenético das mudanças sociais, quando nem todos possuem estratégias para lidar com isto. Entretanto, há também uma espécie de necessidade de cura rápida, onde tanto os pacientes quanto alguns profissionais, são influenciados, gerando interesse em supermedicação.
- Tentei através de muitas maneiras conseguir dados relacionados ao consumo de medicamentos do tipo na Paraíba, mas só consegui os remédios psicotrópicos distribuídos pela rede municipal de João Pessoa: amitriplina, clomipramina, fluoxetina, imipramina, nortriptilina, paroxetina e sertralina. No entanto, não tive acesso a números. Essas substâncias são usadas para tratamento de doenças mentais, correto? Quais são os benefícios e desvantagens de se utilizar determinadas substâncias?
Psicóloga Mayara Almeida: Correto. Os medicamentos atuam na plasticidade cerebral, contribuindo para que as conexões sejam reabertas, facilitando novas apreensões, porém, utilizadas sem psicoterapia, podem não ter efeito algum, ou efeito limitado, considerando que o acompanhamento com um psicólogo será primordial para mudanças na situação de vida e escolhas do paciente, ação que o manejo químico não realiza.
- Em relação às crianças, houve um crescimento do consumo de ritalina, direcionada a crianças com o TDAH (déficit de atenção). Na sua opinião, é recomendável? Que possíveis implicações o uso desse tipo de remédio poderia ter em uma criança e em um futuro adulto?
Psicóloga Mayara Almeida: Costumo avaliar bem, antes de concordar com o uso de medicações, principalmente na infância, pois vejo que muitas vezes, as instituições, pais e familiares, desejam fortemente, amordaçar as inquietações humanas. Quando for realmente necessário, ok; caso contrário, sejamos mais criativos para não transformar em doença, o que é subjetivamente humano.
- Não é incomum ouvir falar que muitas pessoas passaram a utilizar remédios como o Prozac (nos anos 90) e o Rivotril como inibidores de ansiedade ou aliviadores de estresse. No entanto, que tipo de implicações esses medicamentos podem ter em pessoas que teoricamente não teriam um quadro patológico para utilizá-las? E sobre o consumo dessas substâncias por pessoas que tiveram frustrações ou tristezas da vida adulta? Como você vê isso?
Psicóloga Mayara Almeida: As medicações podem desenvolver dependência, principalmente em pessoas que possuem alguma predisposição para tal. Não recomendo a utilização sem acompanhamento médico, pois podem existir reações relacionadas ao uso indevido e influenciar num quadro de síndromes e transtornos posteriores à medicação. A dor subjetiva, angústia ou tristeza não podem ser cuidadas com medicação, é preciso enfrentamento e acompanhamento emocional diante das questões que incomodam.
9 de ago. de 2014
Ah sim,
eu sei que sim. Estilizo-me com sexo verbal, fazendo amor com as palavras me
tocam. Que contam. Que me acham. Sim, as palavras me encontram e mesmo
incertas, são acertos para mim. Aliviam, quase curam, só não, porque é da ordem
do impossível a tal cura pela palavra. Pouco penso se erro, pouco lembro.
Esqueci o que eu estava dizendo. Verdade, não minto. Ou sim? Dizem que são
fortes os que mentem. Pois sou fraca demais para agir assim. Eu sei. Meu quarto
tinha chave, ou tem. Não sei se joguei fora ou se guardei aqui (dentro) de mim.
Engoli. Assim como faço quando o telefone não toca e eu não falo. Silêncio, por
horas e horas e horas. A noite começa e eu não vou fugir. Firme nas memórias
afetivas que me dizem para continuar acreditando no que for prometido com prazo
para cumprir; porque nem só de lembranças vive o homem ou a mulher. Passarinho
longe do ninho? Bom mesmo para alcançar novos voos. E voo com as palavras, que
não me curam, mas me salvam sim. Eu sei. E desejo que vocês também salvem-se
assim.
8 de ago. de 2014
As nuvens de Canudos
Começa a guerra. Será o fim
de Canudos? Pagaram antecipadamente a madeira necessária, mas no dia acertado
ela não foi entregue. A cidade será invadida? Disseram que sim. Pânico inicial.
Solicitação de tropas policiais. Partiu a expedição contra Canudos.
Estratégicos combatentes, vinham mesmo para a guerra. Penso que o
desejo, por si só já é uma máquina de realizações, é força tarefa dos
acontecimentos, move reações... Cuidado com a bala, cuidado com as
foices. E o cuidado com a vida? “Escapa, escapa soldado / Quem
tiver perna que corra / Quem quiser ficar que fique / Quem quiser morrer que
morra / Há de nascer duas vezes / Quem sair desta gangorra” (João Melchiades
Ferreira da Silva). E assim, as surpresas indesejadas, inesperadas, ganharam
vontade de potência e se fizeram reais.
Medo de viver. Será que existia ali? Medo de
morrer. Será que se fazia presente? Entregar-se a uma guerra, sugere um misto
de limites e sentimentos que desatam alguns nós, e formam outros. Mais e mais
pedaços de acontecimentos que nunca puderam chegar a um final benéfico. É como
escrever um livro e jogar no fogo as páginas finais. O que de fato aconteceria
se houvesse continuação com outro fim? Mudar. Será?
Parágrafos pequenos, claro, se comparados à quantidade de
acontecimentos na época. A Guerra de Canudos durou cerca de um ano, mobilizando
17 estados brasileiros, que traziam mais de 10 mil soldados, em 4 expedições
militares. Estima-se que morreram mais de 25 mil pessoas, finalizando com a
destruição total da cidade.
Quais acordos a vida fez com eles,
ou eles fizeram acordos com a vida? E
por que reviver em palavras uma guerra que aconteceu em outros tempos? Eu exijo
da minha mente uma explicação, e ela vem. Escrevo assim, para falar do que tem
por fora, desvendar o que teria por dentro. Dentro dos corações de quem
acordava pela manhã sem saber ao certo como seria, pois o incerto já existia.
Para dizer que acredito nas nuvens de Canudos, que viram tudo.
As nuvens no céu demonstram o
movimento das decisões, elas movem. Você
pode ver. Você pode perceber. E como eram as nuvens no céu de Canudos? Elas
mudaram desde aquela época, ou estamos olhando as mesmas nuvens que receberam
tiros para o alto, para baixo, para o meio, para matar? Não sei, mas acredito
que são continuações das mesmas. E você, o que acha, como pensa?
As nuvens estão no alto, acima de
nós, acima da guerra, livres dessa imensidão terrena, envoltas numa imensidão
suprema. Livres de mim, de você, de querer que a guerra aconteça. E é por isso
que nós olhamos para o céu quando queremos pensar alto, pensar profundo. E é
por isso que sobrevivem, para mim, o céu, as nuvens de Canudos.
Assinar:
Postagens
(
Atom
)