23 de dez. de 2015

Diagnósticos na infância: como lidar

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Dia desses, durante uma sessão de psicoterapia, inúmeras vezes, uma criança agiu com socos, chutes e afins. Chegou com laudo de transtorno de comportamento. Informação vazia, não me diz sobre como atuar e, na verdade, nenhum diagnóstico dirá.

Além da agressividade e força, apesar dos seus sete anos, apresenta também crises de ausência constantes e permanece desmaiado por 5 a 10 segundos diversas vezes, em qualquer lugar que está. Isto já causou alguns acidente que marcaram sua pele e seu rosto, mas nem sempre sua memória consciente, pois não lembra como se machucou.

É uma criança afetiva, sim, a cada sessão um abraço forte e um grito: “tiiiaaa a senhora tava aonde?” Como se cobrasse a minha ausência nos dias em que não o atendo, pois a sessão é semanal, no serviço onde é acompanhado por mim.

Trago este recorte clínico, para convidar a pensar sobre crianças com diagnóstico médico, seja qual for ou com a possibilidade de. Julgo imprescindível dirigir a escuta para: (1) o que a criança está querendo dizer; (2) o que a família da criança diz ao conviver com ela; (3) o
modo como se dá a relação do diagnóstico com a história do sujeito e o meio em que vive. Aspectos que podem desaprisionar a criança e oferecer liberdade pra a subjetividade circular.

Abaixo, alguns dos principais diagnósticos na infância:

● Transtorno de conduta: é caracterizado por comportamento antissocial, persistente, com violação de normas sociais ou direitos individuais. Aplica-se a indivíduos com idade inferior a 18 anos e trazendo limitações importantes do ponto de vista familiar e escolar. Observa-se que o comportamento apresenta maior impacto nos outros do que em si mesmo, e não aparentam sofrimento psíquico ou constrangimento com as próprias atitudes, não se importam em ferir os sentimentos das pessoas ou desrespeitar seus direitos.

● TDAH: descreve comportamentos ligados à falta de atenção, hiperatividade e impulsividade. Esses sintomas devem se manifestar em pelo menos dois contextos, no caso de crianças, os ambientes doméstico e o escolar. Pode predominar a desatenção ou a hiperatividade, ou os quadros podem ser mistos. Alguns dos sintomas já estariam presentes antes dos sete anos de idade e não se apresentariam exclusivamente associados a outros transtornos mentais.

● Altas Habilidades e Superdotação: um fenômeno que agrega todas as características de desenvolvimento do indivíduo sejam eles: aspectos afetivos, cognitivos, neuropsicomotores e de personalidade. A superdotação não independe do meio, é necessário estímulo. Nenhuma criança nasce superdotada, apenas com o potencial para superdotação e àquelas que tiverem oportunidades de desenvolverem seus talentos e singularidades em um ambiente que responda aos seus padrões particulares e necessidades, serão capazes de atualizar as suas habilidades.

● Transtorno Desafiador Opositor: consiste de um padrão de sintomas que incluem frequentemente: perda de paciência, discussão com adultos, desafio ou recusa ativa a obedecer a solicitações ou regras dos adultos, perturba as pessoas deliberadamente, responsabiliza os outros por seus erros. Embora possa começar já aos 2/3 anos de idade, ele tipicamente inicia por volta dos 8 anos de idade.

Relembro que e imprescindível pensar: o porquê do sintoma? O que está acontecendo com a criança? Estão dormindo bem? Como estão seus pais? Alguma mudança na estrutura familiar? Problemas de trabalho, com álcool ou drogas na família? Mudança de residência? Alguma doença? Brigas? É importante registrar que alguns comportamentos isolados fazem parte do desenvolvimento da criança, sendo assim, não se enquadra num transtorno e cabe à família orientar e superar estes comportamentos indesejados.

É muito importante, que o diagnóstico não seja o fim, mas um dos meios de se chegar até o sintoma. Sim, um dos, pois a criança não deve ser paralisada pelo que foi identificado. É um processo de aprendizado sobre como viver com algo que nem todos conhecem ou respeitam.

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