9 de jul. de 2015

Reflexões sobre a escuta

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A escuta cabe nos espaços em que alguém possa falar. Não apenas com palavras, mas com jeitos e elementos entrelaçados na apresentação. Mas a escuta mesmo, aquela real, só acontece quando há um outro disponível a costurar informações, já que, tantas vezes, o início esteja no final da história que se ouve. É um trabalho artístico também, buscando dar conta de aspectos emocionais e sensoriais vividos pelo sujeito que cala e fala, lembra e esquece, constrói e desconstrói, mostra e esconde.

Há pacientes mais comprometidos emocionalmente e, com estes, cabe-nos uma escuta especial, quiçá, poética, para alcançar às suas representações de (des)afetos. O profissional deve cuidar da sua própria escuta para que, assim, possa investí-la na prática de forma que suporte (e sobreviva subjetivamente) às falas agressivas ou afetadas pelo negativo, vindas de alguns pacientes.

À escuta, cabe ainda - e muito mais - ajudar o paciente a estabelecer ligações através das perguntas devolvidas ou comentários em momentos adequados. O profissional empresta a si mesmo - através da escuta - para o investimento de funções que faltam no paciente, para o ego e para a vida.

Há também que estar ali, fazendo escuta, e ao mesmo tempo, percorrer outros caminhos que podem exigir ao profissional - do ponto de vista técnico - promover ao paciente um certa reserva, contenção quando necessário, sustentação verbal e psíquica e diálogos sinceros que nada tem a ver com conivência. Ir e voltar dos acolhimentos e investimentos. Reserva-se sempre que possível e empresta-se sempre que é preciso.

Havendo continuidade de uma boa escuta, pode-se então, reconstituir-se e se levar a diante, confiando em seguir com sua própria identidade, porque através da escuta, autorizou-se a ser, a pensar. Pode-se enfim, escutar também.

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