21 de abr. de 2018

[Entrevista - Suicídio]

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Matéria para o Polêmica Paraíba


1. O suicídio está, obrigatoriamente, ligado a algum distúrbio mental?
Em geral, a tentativa de suicídio é o desfecho de um processo de muitos fatores. Faz parte desse processo uma interação complexa de componentes psicológicos, psiquiátricos, sociodemográficos e genéticos, entretanto, a maioria das pessoas que cometem o suicídio, apresentam transtornos de humor – depressão e transtorno bipolar – transtornos por uso de substâncias psicoativas, esquizofrenia e transtornos de personalidade.

2. Como identificar uma pessoa com pensamentos suicidas?
As pessoas que se encontram com pensamentos de morte estão geralmente passando por período de grande ambivalência, tentando entender o seu momento psíquico e buscando lidar com esses sentimentos. A maioria das pessoas expressa os pensamentos sobre estar planejando algum ato: abandono de atividades habituais, aumento do uso de álcool ou outras drogas, tomada de providências como cartas de despedida ou testamentos, expressão de desespero, ouvir vozes que mandam a pessoa se matar, discurso incoerente sobre não ter esperança no futuro, frases como “o mundo ficaria melhor sem mim”, “queria dormir e não acordar mais”, indicam a necessidade de uma avaliação profissional, pois são sinais de alerta.

3. Como a família e amigos podem ajudar essa pessoa?
Ao saber que alguém pensa em suicídio, é importante que esta pessoa seja ouvida sem julgamentos e saiba concretamente que você está ali para ajudá-la e protegê-la, portanto, fale para ela. É necessário ainda, pensar em formas de garantir a segurança desta pessoa: não deixá-la sozinha, impedir o acesso a locais e objetos que possam ser utilizados usar para se machucar e agendar consulta com um psicólogo e um psiquiatra para uma avaliação específica e imediata.

4. Existe um público com maior tendência suicida?
É a segunda causa de morte entre os adolescentes, que não tem uma visão crítica em relação ao prejuízo. Mais de 70 % das pessoas que se suicidam têm mais de 40 anos, sobretudo, homens e também são frequentes entre solteiros ou divorciados. As taxas de suicídio são maiores nas áreas urbanas do que nas rurais. No romance: Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Johann Wolfgang Goethe, um rapaz da aristocracia alemã se apaixona por uma bela jovem casada, mas não é correspondido e acaba se matando com um tiro na cabeça. Esta obra foi proibida em vários países no século 18 por causa de uma onda de suicídios entre jovens que usaram o mesmo método do protagonista. Por causa disso, a psicanálise criou o termo “efeito Werther”, ou seja, o suicídio “por contágio” ou “copycat”, quando celebridades ou figuras públicas se suicidam e influenciam multidões. Segundo pesquisas, ao menos 5% dos jovens tiram a própria vida por contágio. A atriz Marilyn Monroe, por exemplo, causou um aumento de 12% nos suicídios nos Estados Unidos, após sua morte, por overdose de barbitúricos em 1962.

5. Ainda é um tabu falar sobre o suicídio? Se sim, isso pode influenciar na ocorrência dos casos?
O suicídio ainda tem sido um tabu em nossa sociedade e permanece um assunto proibido em várias crenças religiosas. Isto influencia sim, a ocorrência do ato, pois diminui as possibilidades necessárias para falar abertamente e sem julgamentos sobre os pensamentos de morte.

6. Que medidas e intervenções ajudariam a reduzir o número de suicídios?
Segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde, 90% dos casos de suicídio podem ser prevenidos, desde que existam condições mínimas para oferta de ajuda voluntária ou profissional.Estamos diante de um verdadeiro problema de saúde pública, e a prevenção começa em casa, continua na escola e na sociedade, de forma que o assunto seja comunicado de forma ética e respeitosa. Recentemente, foi iniciado no Brasil, um movimento de políticas públicas para traçar planos integrados de prevenção.

7. Qual a importância do CVV nesses casos?
O Centro de Valorização da Vida - CVV, oferece uma escuta qualificada gratuita durante 24 horas por dia, 7 dias por semana, para pessoas que desejam falar sobre seus sentimentos e esta ação pode faz a diferença na vida de muitas pessoas.

8. Como você acha que as/os psicólogas/os devem atuar quando se deparam com pacientes com ideias de suicídio?
Teme-se, muitas vezes, perguntar ao paciente sobre assuntos relacionados ao suicídio por pensar que a simples pergunta poderia sugerir a ideia de morte. Mas, na verdade, abrir espaço para falar sobre o assunto poderá prevenir a passage ao ato. Perguntas mais genéricas sobre as perspectivas de vida e os planos desse indivíduo para o futuro podem ajudar a introduzir a temática com leveza, mas acolher esta realidade é necessário, bem como, firmar parceria com demais profissionais da saúde mental.

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