16 de ago. de 2015

Observações sobre o amor transferencial *

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Inconsciente, associação livre, interpretação, produções imaginárias... Todos juntos não alcançam a dificuldade presente no manejo da transferência. Esta, composta de tantas nuances e luzinhas constantemente acesas, alertando sobre a constância desse fenômeno na clínica e as dificuldades que isso pode significar. Estar ali, à frente de outro que pode despertar inúmeras memórias e descobertas, mas ocupando um outro lugar, de acolhimento saudável ou contenção, mas não de realização de desejos, é no mínimo, delicado.


Numa situação em que o paciente demonstra, claramente ou não, um enamoramento pelo analista, este “[...] deve reconhecer que a atuação é induzida pela situação analítica e não deve ser atribuído aos encantos de sua própria pessoa; de maneira que não tem nenhum motivo para orgulhar-se [...]”. A perturbação pela dúvida, sobre aceitar ou finalizar, para mim, demonstraria uma forte tendência do analista, à contratransferência negativa, desconstruindo os princípios básicos do processo.


O que está em jogo não é a capacidade ou disposição para amar, das partes, mas sim, os limites necessários para que se estabeleça uma análise possível e ética. Novamente, ali é outro lugar, onde o amor dos amantes só é aceito no nível da palavra que ressignifica e constrói novos sentidos.

E aquele que ama na análise, onde está, senão, pensando neste amor e negligenciando tantas outras questões que o salvariam desta incompreensão de amar o "proibido"! Às vezes, amar pode ser sintoma e necessidade de tratamento, pois condiciona o outro a fingir ser aquilo que não é. A resistir diante da real demanda, e assim, ama-se para não ser descoberto, para não ter que se explicar ou reconhecer aquilo que há por dentro.

Este amor circula no setting, usa os lenços, deita no divã, e está lá como se fosse, mas não é, para o analista. É para o sintoma que se viu refletido no outro.

Como princípio fundamental, o analista deve permitir que a necessidade e o anseio da paciente persistam, de modo a poderem servir de forças para o trabalho e para efetuar mudanças. É uma batalha a travar para o analista: em sua própria mente, contra as forças que procuram arrastá-lo para abaixo do nível analítico; fora da análise, contra opositores que discutem a importância que ele dá às forças instintuais sexuais, e, dentro da análise, contra as pacientes, que revelam a supervalorização da vida sexual que as domina.

É preciso, então, deixar vir, mas não ir junto. Estar ao lado, mas não vivenciando as mesmas projeções infantis do paciente. É fato que não receber o amor, pode ser o acesso a receber o seu contrário: ódio, desprezo, pois este, o amor, é um tipo de loucura socialmente permitida. E dentro do processo terapêutico pode ser um método perigoso, mas é também através dele que se alcança informações incríveis sobre o paciente que pode/devem ser delicadamente transformadas para o próprio bem-estar do sujeito.


* Texto original de Freud (1915) 
por Mayara Almeida
Psicóloga – CRP 13/5938

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