20 de jun. de 2020

[Entrevista] Desequilíbrio da saúde mental e os transtornos mentais em meio à pandemia

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Entrevista cedida ao Polêmica Paraíba, em junho/2020

1. Diante do momento tão complicado que estamos vivendo, quem tem criança em casa acaba tendo uma preocupação maior por tentar manter a rotina da criança; que também acabam sendo afetadas por estresses, e respondendo de diferentes maneiras. Como os pais e/ou mães podem observar essas mudanças no humor e comportamento das crianças, e como eles podem auxiliar para manter a saúde mental dos seus filhos equilibrada neste momento?

A conversa é sempre a melhor opção. Acolher e oferecer segurança, pois a situação é nova para todos e as crianças sentem, de um jeito individual, por isso faz-se necessário observar a frequência de sentimentos como irritabilidade excessiva, insônia, inapetência, excesso de alimentação, retraimento e medos que não cessam. Se necessário, buscar apoio psicológico online para compreensão da situação.


2. Está sendo muito normal nos últimos dias acompanhar relatos nas redes sociais de pessoas que estão começando a desenvolver transtornos mentais, e é possível perceber que isso se dá por que as pessoas estão começando a sentir medo, tristeza, raiva, estresse e, não estão sabendo lidar com tantas emoções. Por que isso acontece? O que se pode fazer para diminuir o estresse emocional?

Não estávamos preparados e talvez nunca estejamos, sobre nos afastar do convívio social. Pegos de surpresa, o misto de medo, susto, perdas e insegurança, pode mesmo afetar as nossas emoções e deixar tudo muito maior, e bem mais, em pessoas que já vivenciavam algum quadro de transtorno mental sem tratamento. Ainda, pessoas que foram acometidas por perdas de familiares ou amigos, perda de emprego, convivência sem trégua com filhos e cônjuges, podem ter apresentando um estranhamento natural, mas se não pensado, elaborado, pode ecoar num adoecimento físico e mental.

Dividir as tarefas, diminuir a busca por informações, criar uma rotina possível dentro de casa, buscar alimentar-se e dormir bem, praticar a escrita, como possibilidade de expressar o que sente, podem influenciar positivamente e ajudar a atravessar a situação.


3. Outra ameaça silenciosa paralela à Covid-19 é mesmo o desequilíbrio da saúde mental? Os transtornos psicológicos podem nos trazer futuramente uma outra onda de estragos à saúde?

Não sabemos exatamente. Penso que ainda é cedo para fazer esta aposta, mas ficarmos atentos e dispostos a amparar quem precisa de ajuda é o caminho possível e saudável neste momento para, quem sabe, diminuir o tamanho da onda, se vier.


4. Muitos profissionais estão enfrentando lutas diárias para manter um equilíbrio da saúde mental, principalmente os da área da saúde, que estão mais expostos aos fatores de estresses. Eu, como jornalista estou trabalhando diariamente e tendo que noticiar mortes e coisas tristes todos os dias. Em conversas com colegas de profissão, é notório que estamos todos muitos exaustos psicologicamente falando, o ciclo de notícias em constante mudança continua e, acaba nos afetando de alguma forma; eu por exemplo nunca pensei que estaria um dia cobrindo uma coisa parecida com a Covid. O que profissionais dessa área podem fazer para tentar não se afetar tanto diante desse momento tão difícil?

Difícil responder. Cada caso pressupõe um olhar individual e respeitoso, mas posso acrescentar que falar continua sendo uma saída para não paralisar. Conversar com os próximos, falar do que dói, põe medo e preocupa. A fala porta a voz da esperança.


5. Muitos idosos estão tendo que enfrentar este momento longe dos filhos e netos; e muitos deles acabam desenvolvendo estresses e crises de ansiedade por não poder sair de casa e não ter a família por perto fisicamente. Como a família pode ajudar de forma virtual a prevenir os transtornos mentais entre os idosos?

Manter uma rotina de ligação, por chamada de vídeo, principalmente, pois é o mais próximo da presença física e, ainda, mais de uma vez ao dia. Brincar através de histórias, músicas e incentivar a espiritualidade. Se possível, passar em frente ao local e conversar um pouco, com máscara e à distancia, mas sempre demonstrando afeto e resiliência.


6 Um outro profissional que também está com dificuldades em relação à saúde mental é o professor, que precisou se reinventar para desempenhar suas atividades em um momento que a sociedade está envolvida em um turbilhão de sentimento, o que os professores podem fazer para se manter firme neste momento?

A Educação já vinha passando por mudanças difíceis a alguns anos – por conta da rigidez que contém, no que diz respeito à inclusão, por exemplo. Esta mudança, foi incisiva, dura, para muitos, pois foi percebido (de forma mais amarga) que a tecnologia não está aí para todos e ainda assim, foi preciso dar conta de algo. Eu desejo que sejam fortes e corajosos, porque quando tudo isso passar, haverão crianças animadíssimas para abraçá-los. Eles também estão na linha de frente, da educação, do caminho que junta o coletivo e acolhe a diversidade.


7. Pessoas hipocondríacas e que sofrem de ansiedade estão batentes confusas neste período, qual a melhor forma de manter uma estabilidade emocional para não desenvolver transtornos mentais?

Buscar apoio profissional especializado: psicólogo ou psiquiatra, para ouvir o que desestabiliza e construir pontes que ainda estejam de pé quando tudo isso passar. Para buscar não se perder dentro de si e na própria casa.

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