11 de dez. de 2010

Lembranças...

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Minha avó gostava de contar histórias para mim. Penso que usava isso como desculpa para não me deixar ir brincar na calçada, correr pela rua e até mesmo jogar futebol com os meninos vizinhos. A calçada era um bom espaço, mas eu gostava mesmo de sair de casa só para ter um lugar para voltar. Minha avó era esperta, tinha histórias de tudo quanto era jeito: doces, amargas, estranhas, curiosas, esquisitas, verdadeiras, e se deleitava quando flagrava meus olhos pequeninos crescendo de tanta imaginação. Talvez ela inventasse a presença para ignorar a saudade.
Enquanto todos assistiam TV na sala, ela me chamava escondidinho para a cozinha, onde liberava um picolé, só para mim. Acho que aquilo me tornava mais independente (fazer o que eu quisesse) e um pouquinho egoísta também. Adulta aos nove anos.
Então, num belo dia, minha avó não contou mais histórias. E parou também de viver a nossa própria história. Trocou as passadas lentas e arrastadas dentro de casa, pelo silêncio. Devolveu-me o medo de altura, a exaustão por brincar sozinha e a falta de graça nos filmes da sessão da tarde. Por diversos motivos, ganhei agilidade em utilizar lágrimas. Minha avó contou-me muitas histórias, nem sabia ela (ou sabia) que me ensinava em voz alta, a escrever as minhas.

Hoje lembrei forte de você 'vozinha'.
É, eu estou conseguindo, como a senhora disse que seria.
Obrigada! :)

[Mayara Almeida]

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