24 de fev. de 2017
"O que as crianças querem de você" *
A criança se expressa de diferentes maneiras e todas elas fazem parte de um percurso em busca da comunicação. Durante a brincadeira, expressões ouvidas e inventadas colorem as tentativas de expressar um incômodo ou descoberta. Há quem compreenda, há quem se afete e reaja com estranheza.
Existe uma força no discurso dos pais que a criança pode acolher e, à duras penas, comprovar que os pais estão certos. É importante saber então que, para a criança, você - adulto - está sempre certo. Então, que certezas está oferecendo à sua criança?
■
* O que as crianças querem de você
Não me mime
Eu sei muito bem que não posso ter tudo o que eu peço - mas eu quero provar meus limites.
Não me trate como se eu fosse menor do que eu realmente sou
Se você fizer isso, você me impede de virar um adulto auto-confiante
Eu vou prestar muito mais atenção nas suas palavras se você falar comigo com calma e olhando nos meus olhos.
Não faça uso de violência comigo
Com seu exemplo, eu posso aprender que com violência se consegue o que quer
Não se espante demais se eu disser: “Eu te odeio!”
Eu não te odeio, mas sua autoridade sobre mim está estragando meus planos
Não me proteja exageradamente de consequências desagradáveis
No final das contas, eu aprendo encarando minhas experiências e as consequências dos meus atos
Às vezes eu só quero chamar um pouco da sua atenção, fale para mim que não está certo e seja você mesmo um exemplo de bom comportamento.
Não reclame e resmungue o tempo todo comigo
Para minha auto-proteção, vou me fingir de surdo quando você falar demais
Não faça promessas impossíveis de serem cumpridas
Lembre-se que quando promessas são quebradas eu me sinto traído e desamparado
Não diga que meus medos são bobos
Eles são verdadeiros para mim, e você pode me ajudar se você tentar compreendê-los.
Não tente se mostrar como uma pessoa sem defeitos e que não erra nunca
O choque será grande demais quando eu descobrir que você também tem muitas falhas
Não faça muito caso dos meus machucadinhos
Se você der muita importância para eles, vou aprender a procurar ganhos e desculpas na doença
Não se considere superior demais para de desculpar comigo
Talvez você se surpreenda com isso, mas uma desculpa sincera desperta em mim compaixão e afeto
Tradução livre do texto Kinderwünsche de A. Lücke
5 de fev. de 2017
Fragmentos de uma ses(são)
Você entra. Senta, chora. Fala de vazios, espaços que já não fazem mais sentido; por vezes, insone ou com muito; sem fome ou com muita. Detalha os receios, sente o medo chegar, confunde horas, dias, reflexos no espelho. Pergunta se eu já ouvi história mais triste e, antes que eu responda, decide continuar.
Insiste que eu fale, diga algo, resolva, decida por você. Eu, fico em silêncio por respeito à esta dor que somente você conhece e eu ainda não posso acessar. Ainda. As conexões que se constroem através da escuta e da fala são profundas e alcançam entendimentos e transformações. De novo, profundas.
Com o tempo, eu falarei também. Quando for necessário. E breve, você não será mais a mesma: após tantos mergulhos, voos, saltos e descansos, descobrirá lugares outros para continuar e seguir. Em frente.
*
Todo o discurso é planta baixa do inconsciente. O não - dito também tem o seu significante. E a psicanálise é um caminho para quem insiste em ver além. Para ser - si, constantemente.
Mayara Almeida
Psicóloga - CRP 13/5938
29 de jan. de 2017
O que é a superdotação?*
A superdotação é um fenômeno que se
caracteriza por uma elevada capacidade mental e um nível de performance
significativamente superior à média.
Diferente de uma habilidade, que
pode ser adquirida através do aprendizado, a superdotação é entendida como um
talento, uma aptidão inata; ou seja, o indivíduo nasce superdotado, e
necessitará de um ambiente que lhe ofereça condições para exercer essas
capacidades de forma adequada. Estes indivíduos, além das elevadas
capacidades intelectuais, criativas ou artísticas tem forte espírito de
liderança, e frequentemente se destacam numa determinada área acadêmica.
Sabe-se que se trata de um fenômeno com marcadores genéticos, porém a vivência
num ambiente com melhores recursos e estímulos promovem um desenvolvimento cada
vez maior das capacidades mentais do superdotado.
Entretanto, os superdotados não precisam ser bons
em todas as áreas. A superdotação pode ser geral ou específica para alguma área
do conhecimento. Por exemplo, uma pessoa pode apresentar uma capacidade
extraordinária em matemática ou na música, porém na área linguística, suas
competências não serem igualmente superiores.
Há um conjunto de
características que podem servir como indicativos na avaliação da superdotação.
Vale ressaltar que os superdotados podem apresentar diversas dessas
características, mas não necessariamente todas elas:
- Desenvolvimento neuropsicomotor precoce: a
criança engatinha, anda e fala mais cedo do que o esperado, com
vocabulário avançado para a idade;
- Habilidade superior para manutenção da
atenção;
- Ótima capacidade de memória com elevada e
rápida capacidade de aprendizagem;
- Persistência e motivação para a resolução de
problemas;
- Aquisição precoce da leitura;
- Habilidade acima da média com números e
aritmética;
- Curiosidade incomum, desejo de aprender e
capacidade de elaborar questionamentos de forma ilimitada;
- Interesses em áreas específicas, podendo
tornar-se especialista no assunto;
- Criatividade;
- Sensibilidade elevada, podendo apresentar
fortes reações em relação a parte sensorial (ruídos, odores, dores), e
especialmente à frustração;
- Comportamento de liderança;
- Energia elevada, o que pode ser confundido com
hiperatividade, especialmente quando não estimuladas adequadamente;
- Aguçada percepção de relações de causa e
efeito;
- Facilidade para estabelecer generalizações, ou
seja, transferir aprendizagens de uma situação para outra;
- Elevado senso crítico: rapidez em identificar
contradições e inconsistências;
- Pensamento divergente: habilidade em encontrar
diversas idéias e soluções para um mesmo problema;
- Tendência ao perfeccionismo.
Ainda, as crianças superdotadas podem
eventualmente sofrer de problemas no ajustamento socioemocional. Uma vez que o
desenvolvimento das capacidades mentais e intelectuais encontra-se muito
acentuado e incompatível com os pares da mesma idade, é comum que o
superdotado tenha prejuízos na interação social, devido a dificuldade em
compartilhar os mesmos interesses. Alguns acabam por se relacionar com crianças
mais velhas ou adultos, ou até mesmo podem apresentar um grande apreço pela
solidão. Se a criança superdotada não for auxiliada pela família ou até mesmo
por um profissional para lidar de modo adequado com sua condição, esse
desajuste socioemocional pode evoluir para problemas de personalidade, depressão e ou traços de agressividade.
Os pais devem
auxilar para o desenvolvimento psicológico mais saudável possível:
- Oferecer um ambiente com recursos que
estimulem continuamente as capacidades mentais da criança;
- Evitar a supervalorização e as expectativas
quanto ao desempenho da criança; ela mesma, em geral, já é muito exigente,
e os pais devem aceitar falhas e ajudar a criança a enfrentar dificuldades
de qualquer ordem.
- Ajudar a criança a lidar com frustrações
emocionais; apesar do superdotado não passar por dificuldades no aspecto
acadêmico, o fracasso faz parte de outros contextos da vida, e prepará-lo
para isso é favorecer seu desenvolvimento emocional saudável;
- Não se esquecer que, embora possua capacidades
avançadas para sua idade o superdotado deve ser tratada de acordo com a
sua faixa etária de desenvolvimento.
Um psicólogo treinado poderá ajudar na detecção de possíveis pessoas altamente habilidosas por meio de avaliações
específicas; orientação de famílias e professores; encaminhamento de crianças altamente habilidosas à escolas que possam suprir a necessidade
de estimulação, enviando relatórios das avaliações feitas nas diferentes áreas.
* Com base neste artigo: Superdotação
Mayara Almeida
Psicóloga - CRP 13/5938
mayarapsicologia@hotmail.com
4 de dez. de 2016
A maternidade e seus desafios
O nascimento de um filho é potencialmente um momento de crise, independente da forma com que chegou, porque, necessariamente, a mãe terá que dar conta de muitas questões identitárias: deixa de ser somente filha para tornar-se mãe, vem à tona as experiências do relacionamento com sua própria mãe, questiona-se a respeito de que tipo mãe quer ser, entre outras reflexões.
A partir da escuta de mulheres grávidas do segundo filho, observo que os aspectos mais ressaltados, não se referem à plenitude vivida nesse momento – como comumente se imaginou durante tanto tempo – mas sim, às dificuldades enfrentadas a partir da chegada de mais uma nova etapa. Os principais temas relatados são: falta de apoio do companheiro, seja nos cuidados com a casa, com a outra criança e ainda, sobre a valorização enquanto mãe, crise profissional e dúvidas sobre precisar ou não de uma babá para ajudar nos cuidados com duas crianças, numa culpabilização sobre não dar conta. Ainda, a surpresa de ser ouvida sobre suas angústias e dúvidas: "estou até me sentindo valorizada". Daí, um pequeno recorte da importância de programas e projetos pré-natais, que acolham a realidade da gravidez.
Sem fazer juízo de valor, acredito que precisamos compreender os limites colocados em nosso dia-a-dia diante da maternidade e paternidade. Diminuir a carga social e pessoal que é colocada diante de cada mulher-mãe que vivencia a realidade de maternar. Como diz o provérbio indígena que valorizo: "é preciso da aldeia inteira para criar uma criança".
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